segunda-feira, 16 de maio de 2016

coisas que eu deveria definitivamente falar pra minha terapeuta

                Eu tenho uma amiga que sempre me pergunta porque que eu vivo mentindo para as pessoas. Bom, ela diz mentindo no sentido de que eu não sou muito de mostrar quando eu estou triste ou zangada ou irritada com raiva – acho que ela não sabe que eu minto em outras coisas também. Sempre que ela me pergunta isso eu geralmente não tenho resposta, mas aqui vai uma:
                As pessoas se preocupam. E eu odeio que as pessoas se preocupem comigo, ou que prestem atenção em mim, ou que minimamente achem que eu preciso de ajuda, porque na minha cabeça, eu não preciso de ajuda nenhuma – e eu sei que isso tá estupidamente errado. As pessoas se preocupariam muito mais comigo se eu dissesse e expressasse como eu me sinto todos os dias, porque eu sou uma completa bagunça de sentimentos mistos que mudam a cada frase a cada barulho a cada toque. Então pra felicidade e consenso geral eu só engulo todo o choro, conto até 10 e boto qualquer música bem animada pra chegar em sala de aula rindo e dançando como eu faço todos os dias, e sinceramente ninguém nota, e sinceramente eu não ligo.
                Mas às vezes tudo se acumula sabe? É como botar poeira pra baixo do tapete, você sabendo que um dia vai ter que levantar aquela porra e tirar toda aquela poeira e que isso vai precisar de três banhos e uma garrafa inteira de antialérgico, mas você faz mesmo assim, e quando termina se sente bem, se sente completamente bem.
                E também, quem é que iria se aproximar de mim se eu demonstrasse tudo isso? Mesmo que eu diga que “ah, dane-se pessoas, não preciso de pessoas, vivo bem sozinha” eu sei que preciso das pessoas pra auto afirmar qualquer coisa aqui dentro, e as pessoas se atraem por pessoas felizes, e é isso que eu dou à elas todos os dias, uma menina feliz que eventualmente se estressa mas que, nah, não precisa ligar pros estresses porque tá tudo bem.
                A pior parte, na verdade, é quando falam de mim, uma coisa que adoram fazer. Não sei qual é o verdadeiro motivo, mas eu sempre sou mal falada nos lugares – talvez porque, de tanto choro engolido, meu filtro não é bem colocado e eu sou levemente bastante grossa – e isso traz mais ainda aquela nossa velha amiga insegurança a tona.

                Essa minha mesma amiga diz que eu minto mal pra caralho, que é óbvio ver quando eu tô mal e quando eu não tô, mas só que a maioria das pessoas não liga ou finge que não vê. Às vezes eu acho que ela tá certa, mas às vezes eu acho que é só ela que se importa o suficiente.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

uma aula

(esses são talvez os principais e mais abrangentes tipos de sensibilidades sexuais, mas não os mais importantes)



uma pessoa hétero é quem se atraí pela pessoa do sexo oposto
um homem gay é quem se atraí por outro homem
uma mulher lésbica é quem se atraí por outra mulher
uma pessoa bissexual é quem gosta de homens e mulheres
homens e mulheres que se identificam de forma diferente do que nasceram (psicologica e biologicamente), são transsexuais ou travestis
uma pessoa panssexual é quem  tem atração sexual ou romântica por outras pessoas independentemente do sexo ou do gênero
uma pessoa assexual é quem não tem desejo sexual por ninguém


se você ler bem eu não disse que algum deles:

  1. vai destruir sua família
  2. fazer uma ditadura
  3. é coisa do diabo
  4. tá fazendo moda ou quer aparecer
  5. é menos homem ou menos mulher
  6. merece ser desrespeitado ou agredido

o que você deve fazer quando algum deles pega o mesmo elevador que você:
  1. no mínimo, dar bom dia






99% tá tudo bem mas aquele 1% contanto que não seja comigo

(acompanhem o raciocínio a seguir)

                Sempre falaram de como eu era parecida com meu pai, eu e meus quatro irmãos sendo iguais a ele – principalmente nos dedões do pé. Minha mãe tem olhos verdes magníficos que eu tenho adoração e inveja (descobri que olhos verdes na família de mamãe são genes dominantes, e eu sou a única filha que não tem olho ver ou azul). Eu nasci uma grande mistura estranha dos dois, com feições que as pessoas adoram dizer que são todas de negro, mas minha pele é clara e com carência de vitamina D. Blá bla blá, que que isso tem haver com o assunto não é mesmo? Bom, o assunto chegou agora: meus cabelos negros e cacheados.
                Fui criada pela minha mãe, e minha mãe sendo minha mãe, deixou meus cabelos lindos e cacheados bem longos, longos até o meio da costa. Um belo dia decidir cortar no ombro, e peguei essa mania de deixar crescer e depois cortar no ombro, que durou dos 12 até os 14 anos. Aos 15 eu vi que detestava meu cabelo no ombro e que iria cortar ele mais pra orelha, e, mesmo com reclamação geral, eu cortei e ganhei mil e um elogios. Mas, em pleno 2016, meu cabelo cresce desigual para o meu ombro, e eu entro em profundo asco por ele, e decido que vou cortar ele todo de vez, no famoso “corte de menino” ou “corte Joãozinho”, nomes os quais eu tenho horror de usar, mas usarei. Minha mãe disse bem claro “entra nessa casa com o cabelo de menino que eu nunca mais te deixo cortar o cabelo” e foi assim que eu fui no salão e cortei meu cabelo todo, ao maravilhoso estilo joãozinho. Metade do universo detestou, meus amigos quase deram na minha cara e minha mãe me deu uma bronca. Eu, obviamente, me irritei. Por que ninguém tinha a decência de ficar feliz com meu corte de cabelo? Eu estava – não, eu estou – tão feliz com meu cabelo que não entendia qual era a do reboliço. A verdade e a real pauta do assunto INTEIRO que eu enrolei bastante pra contar é que, pelo meu cabelo estar curto, eu pareço um menino.

Porra.

                Claro, eu sabia que isso iria acontecer, por isso que, quando meus professores ou pessoas que não me conhecem me confundem com um menino ou perguntam se eu sou um menino, eu respondo rindo que eu sou uma menina – e que sou uma gracinha de menina. A escolha das roupas não ajuda: detesto vestidos e saias e uso roupas mais largas, o que faz com que eu “pareça” um menino. Quando fui tirar meu título de eleitor, a moça perguntou para minha mãe “qual é o nome dele?” e ela respondeu “é uma menina, e pra sua informação ela não tem nem feições de homem” ou algo do tipo.
                Agora, por favor, me diz: em pleno século 21 eu, em toda minha glória, sou obrigada a escutar comentários sexistas sobre como eu corto ou uso meu cabelo dentro da minha própria casa? Jamé, jamé! Então me entendam quando eu me irritei há poucas horas com minha mãe quando escolhíamos uma foto minha para ela botar no papel de parede do celular. “Olha como você aparece um menino”, “só anda com esse tipo de roupa”, “tu és menina, não menino, e vai parecer com um”. Veio na garganta o grito, mas o que saiu foi “a forma como eu uso meu cabelo não define o meu gênero” e sai como se tivesse jogado um microfone no chão. Obviamente, discutimos – melhor seria dizer que ela ficou com bastante raiva.
                Se eu quiser cortar meu cabelo, eu corto. Se eu quiser usar um short curto e uma blusa colada, eu uso. Eu sou dona de mim e das minhas escolhas com meu corpo, das mais simples até as mais complicadas. Exemplo? Quero botar um piercing na orelha, mas minha mãe não deixa. Tudo bem, porque eu não tenho idade o suficiente para ir lá e fazer, mas quando eu tiver eu vou. Eu gosto de usar roupas largas porque me acho magra demais, e isso acarreta na minha escolha nas roupas masculinas – principalmente porque as estampas são 10 – e nisso nem minha mãe ou QUALQUER pessoa pode reprimir, porque eu tenho esse direito e essa escolha, de me vestir e desvestir como eu quiser sem ser julgada ou apontada na rua.
                Eu, sinceramente, não entendo padrões. Porque uma mulher só é realmente mulher se tiver cabelos longos, unhas bem feitas, amar sapatos e maquiagem? E a mesma coisa com homens, só substituindo para futebol, cabelos curtos e vida sexual bem mais ativa. Alias, da onde vieram esses padrões? O que nos diferencia é um órgão sexual, alguns hormônios a mais e a menos, poder e não poder gerar filhos. Esses padrões, da onde vieram? Esses padrões, porque mudam a todo tempo e porque são diferentes em cada lugar diferente? Por que quando olhamos uma pessoa de costa de cabelos curtos e roupas largas, deduzimos que é um menino, assim como fazem meus professores ao me chamar para ler algo em frente à classe?
                Se eu quiser, eu uso roupas de manga com um short enorme que nem cola nas coxas. Mas se eu quiser, eu uso um vestido com um salto alto e maquiagem forte. E ainda melhor: se eu quiser, eu uso tênis, shorts enormes, uma camisa larga de mangas por baixo de um casaco rosa pink com um batom matte vermelho, e pode ter certeza que eu vou descer e arrasar como eu estiver.


(acompanhou o raciocínio?)

era pra ser um assunto, acabou sendo dois e meio

                Como todo mundo, eu tenho uma mãe – biológica tá gente, biológica. E como toda mãe, essa só quer o melhor para mim, e eu entendo isso. Mas às vezes, como sempre acontece, você mesmo tem que saber diferenciar as coisas que divergem o que te faz bem e o que não te faz bem, e eventualmente isso VAI acontecer, sua mãe ou seu pai querendo ou não.
                O grande problema disso é que os pais, diferente de como pensamos – nós, adolescentes com crises existências a todo tempo – entendem. Lembra daquela música do Legião “você diz que seus pais não entendem, mas você não entende seus pais”? É isso.
_é_isso_.
                Seus pais entendem aquela desilusão amorosa que cê tá passando porque eles já passaram por inúmeras – e ainda vão passar por muitas mais; seus pais entendem aquele professor filho da puta que te dá sono ou te dá raiva OU OS DOIS, porque eles tiveram uns bem piores; seus pais entendem que você quer aquela liberdade pra: andar de ônibus, ir pra uma festa e ficar até mais tarde, almoçar com os amigos pra ficar pro retorno, mas o problema é sempre o medo. Teus pais provavelmente já andaram de ônibus muito mais do que cê vai andar a vida inteira, e sabem o quão escroto é ter que ficar em pé depois de 6 ou mais horas de aula pra ir pra casa. Teus pais tem aquele óbvio medo e paranoia de perigo is everywhere, e te deixar ir pra festa é o mesmo que te deixar usar drogas e bebidas e depois, tudo acaba em morte. Pra que almoçar fora e gastar dinheiro podendo correr perigo na rua se você pode muito bem almoçar o conforto da tua casa?
Cara, teus pais entendem
Quem não tá entendendo é você mesmo
                É claro que, estamos aqui falando de casos a parte, e cada caso é um caso. Assim como tu não tens o direito de bater no teu pai, ele não tem o direito de te bater. Assim como tu tens que ter respeito com as decisões que a tua mãe faz, ela tem que ter respeito com as tuas decisões – te apoiar e te repreender quando for necessário. Teus pais tão aqui pra te ensinar e te educar, como mediadores, mas acima de tudo: quem faz o que quiser, é tu. Se vai dar merda ou se não vai o problema é teu, com isso tu podes aprender ou não. Tudo tem limites, obviamente, mas assim como teus pais escolheram fazer o que fizeram pra chegar onde chegaram – incluindo tomar as próprias decisões acima dos pais –, tu também tens que tomar essas decisões, e começar a pensar por si só.
                Claro, não é um processo fácil. Viver uma vida inteira de baixo das asas dos pais é quaaaaaaaaaase normal, só não é porque não faz bem. Eu mesma tô aqui tentando me livrar de algumas rédeas que minha mãe botou no meu pescoço a vida inteira, mas não vou mudar de uma hora pra outra, principalmente porque ainda não respondo pelos meus atos.
                Mas tudo isso não parece um pouco... Padronizado? I mean – uso muitas expressões em inglês, desculpa ai –, se cê tem internet e tempo pra estar lendo isso aqui, eu suponho que a tua condição de vida é ótima, e que provavelmente você tem um computador só teu, um quarto só teu, e comida na tua mesa. Ah, lá vem a que diz que é pra agradecer a Deus porque tem teto e comida, é, lá vem ela mesmo. Agradece ai pro que vier, pro teu deus, pros teus deuses, pras tuas entidades. Tudo isso daí que tá tu tás passando é isso: tá passando. Daqui alguns anos a gente sempre olha pra trás pra ver o quão egoísta a gente era, o quanto a gente não aproveitou a fase que a gente tava vivendo – o ser humano é um bicho estranho.
                Pensa não só pelo o que você tem, pensa o que cê não tem também. No meu caso, um piano novo (de preferência Yamaha) que custa uns 5 mil reais, que é mais da metade do salário da minha mãe. Pensa naquela menina da tua idade que tá grávida, e só queria não ter aquele filho, porque de acordo com todo mundo, a vida dela acabou. Ela não tá esperando um piano Yamaha, ela tá esperando um filho.
(Agora, pra te pegar dessa vez: a menina que cê visualizou, ela era negra ou branca? Haha.
                Quando eu escrevi a frase “pensa naquela menina...” escrevi primeiro, menina negra pobre. Depois pensei porque ela tinha que ser negra e porque ela tinha que ser pobre; substitui menina de favela. Tá, mas porque tem que ser de favela? Vê, nós todos somos assim, tão ocupados pelos nossos problemas que temos esse padrão estranho quando vamos pensar “fora da caixinha”.)
                Teus problemas, teus pais, outras pessoas, nenhumas pessoas. Cara, já viu no quanto a gente pensa? É absurdo! Como é que dá conta de tudo isso? Resposta:

Não dá conta.

vamo introduzir

Bom, cá estamos nós – quando digo nós, digo só eu mesmo. 
Já deve ser a terceira-talvez-quarta vez que eu tô aqui, tentando fazer um blog externalizando as coisas antes que eu exploda. Eu realmente não tenho muita intenção que as pessoas leiam tudo o que eu vou escrever, porque afinal, eu vou escrever sobre mim e sobre todos aqueles probleminhas ridículos que todo adolescente em formação tem, o que é o meu caso. É, este é um ato extremo de desespero.
Mas, se cê por acaso estiver com esses problemas também, tô aqui pra cê ler e dizer “mas olha só não é que eu não sou a barroca pioneira the only oneTM que tem esses probleminhas?”. Então, idk, sinta-se a vontade de rir de mim ou comigo, cê que sabe.
Mas, é claro, que falar só de mim é um saco, já que, particularmente eu sou uma pessoa que tem uma vidinha bem agitada – ainda não sei se isso é bom ou ruim. Então obviamente vou falar de outras coisas aqui também, e claro que cê não vai lidar 100% pra minha opinião porque ela é pessoal é não crítica né? Porque todos nós somos seres humanos racionais que entendem que cada um tem sua opiniãozinha né? Ótimo!!! Então, contanto que sua opinião não desrespeite ninguém, pra mim tá válida e cê pode explanar ela na minha cara o quanto quiser.

E é isso.